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terça-feira, 7 de abril de 2015 18h45

 

 

No dia 1º de abril Mestre Zequinha, completou 40 anos de capoeira.

Nesta longa trajetória ele ajudou a divulgar a luta que se mistura com a dança e a música em Piracicaba e fortaleceu o estilo primitivo na cidade.

No final do ano passado, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) reconheceu a capoeira como patrimônio cultural da humanidade.

De origem afro-brasileira, a expressão esportiva e cultural é uma das responsáveis pela identidade do país, porém já se espalhou para outras 100 nações ao redor do mundo.

Ao Jornal de Piracicaba, o piracicabano contou sobre sua história e destacou que ainda são necessárias muitas outras conquistas.

A relação entre o piracicabano José de Almeida Filho e a capoeira foi de amor a primeira vista. “A capoeira é a minha vida”.

O encontro aconteceu em dia de trabalho.

“Eu estava com a minha bicicleta quebrada e tive que almoçar onde eu trabalhava, na hora do intervalo vi uma pessoa fazendo umas estripulias e quando ele terminou eu fui perguntar o que era aquilo, se era karatê ou kung fu”.

A resposta não foi muito gentil, Prefeito como era chamado na capoeira, o questionou sobre não conhecer a luta brasileira.

“Eu cresci na roça até 14 anos e não sabia de nada. Mas eu gostei daquilo e pedi para ele me ensinar. Então nós treinávamos na própria fábrica”.

Até que um dia eles se cansaram de lutar contra o uniforme.

“Minha mãe tinha um quintal e pedi para ela nos deixar treinar lá. Destrui a horta que ela tinha antes mesmo do Prefeito (não se lembrou o nome de nascimento dele) aceitar a proposta”.

Para a sorte de Zequinha ele concordou. Eles treinaram na casa da mãe de Zequinha durante um ano.

“Então ele me falou que já tinha me ensinado tudo o que sabia e que não podia mais continuar, pois não era professor. Fiquei por uns meses parado até ele me indicar o Mestre Cosmo, que na época ainda não era mestre”.

O encontro entre eles foi no Carnaval.

Na época, o cordão do Leão da Paulicéia tinha um grupo de capoeiristas participando.

“Quando eu os vi já não tinha mais passista. Só queria saber da capoeira. Assim que terminaram a apresentação eles fizeram uma roda e fui conhecê-los”.

A partir deste encontro eles iniciaram a primeira célula antes de constituir a primeira academia de capoeira de Piracicaba, em 1980.

A luta depois disso era em conseguir um espaço para poder treinar.

O principal adversário o preconceito e desvalorização da expressão.

“A princípio nós alugamos em cinco pessoas, alunos, um espaço, em 1978. Depois de um tempo ele achava que a capoeira era algo muito violento e quis encerrar o contrato. Mudamos para o Calq (Centro Acadêmico Luiz de Queiroz) em 1979 e conseguimos uns 40 alunos, mas mesmo assim o local também não deu certo. Até que achamos um espaço na rua Voluntários, onde ficamos por 15 anos”.

Em 1984 o Mestre Cosmo decidiu se dedicar a família e passar o compromisso de continuar a divulgar a capoeira para Zequinha.

“Então, nesta época eu acabei ficando sem mestre. Como ele sempre me dizia para ir a Bahia decidi fazer isso para aprender mais”.

Um anos depois ele foi para o outro estado.

Lá ele conheceu o Mestre João Pequeno que lhe apresentou a capoeira angola.

“Hoje existe vários estilos, mas este é o mais primitivo. Alguns acham que é mais fraco porque não é tão marcante e mais lenta, mas é muito difícil”.

Depois disso as viagens para a Bahia se tornaram um compromisso de Zequinha.

Mas ele também teve a iniciativa de trazer os mestres de lá para Piracicaba.

Nestas idas e vindas ele conheceu os dois mestres que lhe deram o título também de mestre, Boca Rica em 1997 e Lua de Bobó em 2001.

“Em 2002 fizemos um evento na Bahia para marcar minha formatura. Joguei com 14 mestres seguidos”.

Um ano depois ele promoveu outro evento em Piracicaba para formalizar na sua cidade.

Há 15 anos Zequinha trabalha exclusivamente com capoeira.

Mantém seu ensino na Escola de Capoeira Raiz de Angola Piracicaba, fundada em 1996.

PATRIMÔNIO — Ainda são muitas as divergências sobre a capoeira como um esporte olímpico, mas quanto o seu valor cultural não há dúvidas.

“Acredito que o reconhecimento da Unesco é um passo importante, mas é necessário muitos mais”.

De acordo com Zequinha, a visão antiga ainda persiste.

Ainda há preconceito, mesmo com o jogo tendo se espalhado pelo mundo.

“O que acredito ser muito importante neste momento é a aprovação da aposentadoria para os mestres. Eles são pessoas que dedicaram a vida para promover este patrimônio imaterial brasileiro e envelhecem à míngua”.

Ele explicou que a capoeira só pode ser praticada depois do primeiro governo de Getúlio Vargas.

Os trajes da capoeira angola simbolizam a busca dos praticantes pela aceitação. 

 

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